Natureza Intima

A LUA.

Partilho aqui um trecho do livro: “O Caminho do Tarot de Alejandro Jodorowsky”. Quem me apresentou foi a Ana Thomaz, um mulher que sempre me inspira, vale cada frase.

 

E se A Lua falasse… “Você pede que eu me explique, mas estou longe demais das

palavras, da lógica, do pensamento discursivo do intelecto … Sou um estado secreto e indizível, sou o mistério onde começa todo conhecimento profundo, quando você mergulha em minhas águas silenciosas sem nada exigir, sem tentar definir coisa nenhuma, fora de toda luz. Quanto mais você entra em mim, mais eu o atraio.

 

Não há nada de claro em mim. Sou sem fundo, sou toda nuances, espalho-me no reino das sombras. Sou um pântano de riqueza incomensurável, contenho todos os tótens, os deuses pré-históricos, os tesouros dos tempos passados e futuros. Sou a matriz. Além do inconsciente, sou a própria criação. Escapo a qualquer definição.

 

Sei que me adoraram. Depois que os seres humanos desenvolveram uma centelha de consciência, eles me identificaram com ela. Como um coração de prata perfeita, brilho nas trevas da noite. Eu era a luz que eles suspeitavam nebulosamente que reinava no subsolo das suas almas cegas. Eu havia me fincado em todas as obscuridades do universo. Lá, onde as entidades ávidas

espreitam a mais mínima centelha de consciência, dimensões de loucura, de solidão absoluta, de delírio glacial, desse silêncio doloroso que chamam de ‘poesia’, reconheci que para ser era preciso ir até lá onde eu não estava.

 

Caí em mim mesma, cada vez mais fundo. Eu me perdia descendo em direção a lugar nenhum, até que no final, ‘eu’, a obscura, não existia mais. Ou melhor: era uma concavidade infinita, uma boca aberta contendo toda sede do mundo. Uma vagina sem limites, tornada aspiração total. Então, nessa vacuidade, nessa ausência de contornos, pude enfim refletir a totalidade da luz. Uma luz ardente que transformei em seu reflexo frio, não a luz que engendra, mas aquela que ilumina.

 

Não insemino, apenas indico. Quem recebe minha luz conhece aquilo que é, nada mais.